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Botando a mão na consciência. Por que os sistemas de alarme contra incêndio não são levados a sério?

Olá, meu nome é Robson, sou Engenheiro Civil, sócio da empresa Magnus Engenharia e Arquitetura, e especialista em Engenharia de Prevenção de Incêndio. Compartilho com o colega Engenheiro Rafael do Blog da Engetel e seus leitores uma experiência pessoal que tive recentemente, e fez-me questionar se estamos realmente prontos para saber como agir numa situação de emergência.
Há alguns meses me hospedei num hotel de uma renomada rede internacional na cidade São Paulo. Passava da meia-noite, e o alarme de incêndio soou. Muito alto, ao ponto de incomodar qualquer hóspede de qualquer pavimento. Certamente no momento do habite-se o Bombeiro nem sequer conferiu os laudos, dada a eficiência da sirene. Automaticamente, espera-se um preparo básico do hotel, seja através de brigadistas voluntários ou uma simples ligação da recepção.
Eu encontrava-me no 6º andar. Pavimento, com esposa e dois filhos pequenos (2 e 4 anos). Ainda assim, qual foi minha primeira reação? É um alarme falso, pensei. Disse à minha esposa: “já vai parar”. Ela, talvez com sua intuição materna, alertou-me: “Vai lá verificar, vamos descer com as crianças!”. Elas estavam dormindo e eu resisti: “Espera no quarto, vou descer de escada até o lobby”.
Ao chegar a lobby, deparo-me com um único atendente do hotel preocupado em finalizar um check-in de um novo hóspede, e desligando a sirene que insistia em disparar. Questionei se alguém havia verificado se não se tratava de fato de um incêndio, quando chegou outro funcionário que estava dormindo e era responsável pela manobra de veículos. O atendente solicitou a ele que, de elevador (sim, pasmem), fosse a todos os andares verificar, e concentrou-se novamente em seu check-in. Comunicou-me que não era nada e poderia ficar tranquilo. Pior, disse que havia ligado para o responsável pela manutenção (quem poderia verificar), mas o mesmo não atendia o celular.
Voltei ao quarto, mas a sirene insistiu em tocar de forma intervalada. Ela era desligada pelo recepcionista e, alguns minutos depois, voltava a alarmar. Cobrado por minha esposa, e impossibilitado de dormir, fui novamente até o lobby. Desta vez, pedi autorização para ir até a central, a qual era endereçável e acusava o local do acionamento. Para minha surpresa, era no próprio térreo, num acionador que o funcionário confessou ter mexido. Eu conhecia o equipamento, e o instruí que com uma chave de fenda conseguiria rearmá-lo. Assim foi feito e a sirene parou.
Eu o questionei porque havia mexido no acionador, e ele disse que achava que era ali que estava o problema, mas sem o menor conhecimento. Conclui que talvez o primeiro alarme tenha sido gerado por outro equipamento, talvez um detector de fumaça acionado por um hóspede mal-intencionado.
Enfim, de fato não havia incêndio e o alarme parou. No outro dia, ao fazer o check-out, descobri que havia ganhado a diária, dado o transtorno causado pelo problema e por ter colaborado com a solução.
Trago então a discussão à tona: qual problema vem primeiro? A desconfiança cultural nos sistemas porque de fato falham historicamente? Ou será que vem primeiro a falsa impressão que nunca acontecerá nada conosco? E mais, como um hotel de uma grande rede trata o tema desta forma? Que documentos apresentou no momento da vistoria dos Bombeiros? Que treinamentos dá a seus funcionários? E se fosse um incêndio de verdade? E ainda: porque outros hóspedes não se preocuparam (o hotel estava bastante ocupado)?
O que falta para efetivamente acreditarmos nos sistemas de segurança? Vamos botar a mão na consciência?